Grandes corporações geram crise alimentar
por Frank Mulder
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Esqueçam os especuladores e os agrocombustíveis. A verdadeira causa da contínua crise alimentar são as corporações do setor, porque espremem a agricultura, disse o professor holandês Jan-Douwe van der Ploeg. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) reuniu em setembro vários especialistas para discutir as causas do aumento do preço do trigo. “A demanda mundial por cereais e a produção parecem estar equilibradas. Não há indícios de uma iminente crise alimentar”, concluíram.
“Arrazoado fútil”, disse o professor de sociologia rural da holandesa Universidade de Wageningen. “Quase um bilhão de pessoas passam fome, outro bilhão sofre desnutrição crônica e mais um bilhão de pessoas estão obesas”, disse Jan-Douwe. “Por acaso, isso não é uma crise alimentar?”, perguntou. “Sempre houve fome, mas há 50 anos o fenômeno é global e permanente”, e por trás da crise alimentar há outra agrícola, acrescentou. “Cada vez é mais difícil para os agricultores sobreviverem devido aos baixos preços e às flutuações dos mercados. É um paradoxo, para os consumidores é cada vez mais caro e os produtores não podem recuperar o investimento”, destacou.
“Quem fica com a diferença? Os impérios da comida”, assegurou o professor. “O mercado está cada vez mais dominado por conglomerados comerciais industriais como Ahold, Nestlé, Cargill e muitos outros que controlam a produção, o processamento, a distribuição e o consumo de alimentos”, explicou. “Eles manipulam os mercados e espremem a riqueza do campo. Nesse contexto, pequenos desequilíbrios nos mercados se traduzem em grandes flutuações de preços”, afirmou. Os impérios não costumam controlar os recursos, mas as redes. Leia mais